Por Ed Stetzer*
O chamado para sermos
missionários onde estamos - ser “missional” - muitas vezes resulta em igrejas
que negligenciam a missão global da igreja. Nós demos muitos passos na direção
certa, mas ainda não chegamos lá.
Por que tantos cristãos
missionais não estão envolvidos na missão global de Deus? Por que estamos tão
ocupados localmente que não somos bons globalmente?
Há cinco razões pelas
quais acho que lutamos com isso:
1. Ao redescobrir a missão de Deus, muitos
descobriram apenas suas dimensões pessoais.
Não quero dizer que eles
tenham de alguma forma localizado a missão em sua vida interior, “privada” -
isso faria pouco sentido. Em vez disso, o encorajamento de cada pessoa a estar
em missão (ser “missional”) tendeu a uma obrigação pessoal de configurações
pessoais, em vez de uma obrigação global de promover o Reino de Deus entre
todas as nações.
“Missional” fundiu-se com
o Cristianismo privatizado para servir como motivo de projetos pessoais
realizados em esferas pessoais. Isso não é necessariamente ruim. Mas quando o
impulso missional não é expandido para incluir a missão global de Deus, ele
resulta em crentes movidos apenas para ministrar em suas próprias Jerusaléns
sem focalizar sua mente em relação às suas Judeias, Samarias e as partes mais
remotas da terra (Atos 1:8).
2. Ao responder à missão de Deus, muitos
queriam ser mais parecidos com a missão e, portanto, transformaram tudo em
“missão”.
O historiador de missões
Stephen Neil, respondendo a um aumento semelhante no interesse pela missão (o
movimento missio Dei dos anos 1950 e seguintes), o explicou dessa forma: “Se tudo
é missão, nada é missão”. A preocupação de Neil era que o foco mudasse de
evangelização global (muitas vezes chamada de “missões”) para a transformação
social (muitas vezes chamada de “missão”). Ele estava certo.
John Piper ecoou essas
mesmas preocupações, diferenciando entre evangelismo e missões. Ele nos lembra
que quando “todo cristão é um missionário”, que equivale a “missional”, então
diluímos a necessidade e a especialidade dos missionários para terras
estrangeiras. (Embora eu gostaria de matizar a linguagem de John um pouco, eu
concordo com o seu ponto.)
Convidar pessoas para a
igreja e limpar a igreja são empreendimentos nobres, mas chamar isso de “missional”
e “serviço” é, na melhor das hipóteses, uma ingenuidade ministerial. Isso demonstra
a confusão que se instala quando os rótulos se tornam chavões. E, à medida que
as bordas externas do rótulo missional ficam confusas, assim também a missão
para as partes mais remotas do mundo fica confusa.
3. Ao relacionar a missão de Deus, a mensagem
inclui cada vez mais o doente, mas menos frequentemente, inclui o perdido
global.
Você só precisa assistir
os vídeos para ver as ênfases: projetos globais de órfãos, erradicação da AIDS,
caixas de sapatos de natal, etc. Todas essas causas agora possuem grupos de
defesa, e certamente eles são importantes. No entanto, seu vocabulário e
quadros de referência frequentemente não dão espaço para evangelizar as mesmas
pessoas que eles tocam.
A mensagem do evangelismo
mundial, na verdade, parece mais comum nas igrejas com legados tradicionais do
que nas igrejas missionais. As igrejas missionais parecem falar mais de povos
não servidos em vez de povos não alcançados. À medida que nos comprometemos em
entregar a justiça, também precisamos entregar o evangelho independentemente do
status de alguém em uma cultura.
4. Ao se reorientar na missão de Deus, muitos
estão se concentrando em ser uma boa notícia, em vez de contar a boa notícia.
São Francisco,
alegadamente, disse: “Pregue o evangelho em todos os momentos e, quando
necessário, use palavras.” Curiosamente, São Francisco nunca disse isso, nem o
teria feito devido à sua participação em uma ordem de pregação. Mas esta é uma
citação enérgica lançada em declarações de missão e sermões de visão em igrejas
missionais por todo o meu país. Por quê? Parece que muitos na conversa
missional colocam um valor maior em servir o doente global ao invés de
evangelizar o perdido global. Ou talvez seja apenas mais fácil.
Não estou incitando uma
dicotomia aqui, só estou observando que já existe uma. É irônico, no entanto,
que ao mesmo tempo que tantos cristãos missionais tenham procurado “incorporar”
o evangelho, eles escolheram abandonar um membro do corpo de Cristo: a boca.
5. Ao reiterar a missão de Deus, muitos perdem
o contexto da missão global e da necessidade da presença global da igreja.
Por qualquer motivo -
seja o admirável motivo do compromisso com a igreja local ou o desprezível
motivo do compromisso com o cristianismo consumista personalizado - nós
perdemos o grande escopo de toda a família de Deus. Enquanto Cristo chama
pessoas de todas as línguas, tribos e nações, nós nos contentamos com a nossa
língua, tribo e nação.
Muitas igrejas estão
abraçando de forma maravilhosa o imperativo missional, mas, à medida que
procuram “possuir” a missão, adaptando sua igreja a um movimento missional em
sua comunidade local, alguns localizam inadvertidamente a própria missão de
Deus e perdem a conexão vital que todos os crentes compartilham. Um híper-foco
em nossa própria comunidade resulta em uma visão perdida para a comunhão dos
santos.
Então, como colocamos “missão”
de volta em “missional”?
Quatro Princípios a Considerar
Primeiro, reconheça que a
missão é de Deus, e que precisamos ser apaixonados pela missão conforme Ele a
descreve. Não somos donos da missão, e ela não é nossa para a definirmos. É bom
ter uma declaração de visão da igreja, mas a missão de Deus é melhor e maior.
Nossa primeira tarefa é submeter-nos à missão de Deus.
Segundo, os evangélicos
têm minimizado o chamado para servir os pobres e doentes e precisam de um
envolvimento mais forte na justiça social. Isso parece contra-intuitivo se
procuramos remediar a perda de preocupação pelo evangelismo articulado. Mas o
engajamento social envolve o engajamento relacional e o envolvimento relacional
implica em oportunidades para compartilhar o evangelho. Os êxitos e
experiências em nossas comunidades deveriam despertar corações e mentes para as
necessidades globais. Precisamos apenas manter o motivo da justiça social: a
glória de Deus na adoração de Jesus.
Terceiro, compartilhe a
profunda preocupação de Deus em relação à Sua missão para as nações - que o Seu
nome seja louvado pelos lábios de homens e mulheres de todos os cantos do
globo. Sinta a Grande Comissão em seus ossos. Peça a Deus para transformar seu
coração por aqueles que você não pode ver. Como fez Paulo, desenvolva maneiras
de “lutar pessoalmente” por aqueles que estão longe (Colossenses 2:1). A
conversa política atual sobre os refugiados deveria ser uma lembrança útil de
que nossos corações precisam ser dominados pela missão tanto a nível local como
global.
Quarto, as igrejas que
são sérias em seu chamado de se juntar a Deus em Sua missão, obedecerão a Seus
mandamentos de discipular as nações. O produto final do esforço missional deve
ser um cristão maduro pronto para produzir mais cristãos maduros.
Parece-me que muitas
igrejas missionais estão perdendo a Grande Comissão em nome de serem
missionais. Isso não faz sentido algum. É um grande erro (mas historicamente
comum).
Se estamos realmente
interessados em sermos missionários locais - em juntar-nos a Deus em Sua missão
- nossos esforços devem realmente refletir Sua missão declarada. Nós estamos
ligados ao Grande Mandamento como a expressão humana mais completa do amor de
Deus. Mas o Mandamento não é hermeticamente separado da Grande Comissão. Em vez
disso, a Grande Comissão fornece o “o que” da missão, enquanto o Grande
Mandamento fornece parte do “como”. Respondendo à antiga pergunta de “Quem é
meu próximo?”, deve resultar no desejo de “fazer discípulos de todos nações”.
* Ed Stetzer é Presidente
da Igreja, Missão e Evangelismo Billy Graham no Colégio Wheaton, é diretor
executivo do Centro para Evangelismo Billy Graham e é pastor interino da Igreja
Moody em Chicago.
Reimpresso de
EdStetzer.com, 16 de fevereiro de 2017. Usado com permissão.
Extraído da Revista Alliance Life, edição julho/agosto 2017.
Tradução de Beatrice Koopmann